quarta-feira, 9 de maio de 2012



Os falsos delicados que defedem Décio ignoram a insegurança por uma simples razão:picaretas não vivem sem cofres públicos



Por Roberto Kenard



Hoje, numa conversa com um velho amigo, disse o seguinte: eu chorei e fiquei muito mal com a morte de Décio Sá. Agora os que se dizem amigos dele tratam o caso com sentimento vulgar e defesa inapropriada. Disse mais: jamais estarei nessa fileira. Lamentar de verdade o ocorrido com Décio Sá requer dignidade.


Sou dos que acreditam que lamentar uma morte não significa endeusar o morto. Disse inúmeras vezes – e ele ficava contente com o que eu dizia, diga-se logo – a Décio que ele era um grande repórter. Aquele que adora a notícia. E escrevi aqui (os leitores podem recorrer aos arquivos) que ser bom ou excelente repórter não quer dizer ter bom texto. O jornalismo é assim.


Mas a condição de morto não faz de Décio Sá um paladino da justiça e da democracia. Ao contrário, por estar a serviço de um grupo político, no caso dos Sarney, Décio inúmeras vezes deixou de lado o jornalismo. Impossível esquecer o que ele fez com a correspondente da Folha de S. Paulo que cobria a eleição de 2010 no Maranhão. Para defender os patrões, Décio chegou ao ponto de divulgar o celular da repórter no blog. Um acinte. Ouso dizer o que os que se passam por delicados, mas que na verdade estão a falar em causa própria, fingem tapar o nariz ao ouvir: há muito Décio havia deixado de ser jornalista para ser um repórter dos Sarney.


Pergunto: imbecis e picaretas de todos os naipes, com isso estou a defender o assassinato brutal? Claro que não. Só os canalhas e picaretas diriam que sim. Porque estes não estão a defender Décio, mas os defeitos de Décio que eles trazem em si.


Os jornalistas de araque amavam Décio Sá não pelas qualidades, mas pelos defeitos. Queriam ser Décio não pelo que ele conseguiu fazer de qualidade, mas pelo o que fez de reprovável. Os abomináveis nos amam pelo que fazemos de errado, eis a verdade indiscutível.


São esses crápulas que vejo a defender Décio Sá a qualquer preço e a qualquer custo. Esses não defendem Décio, o morto brutalmente, esses se agarram ao morto inescrupulosamente para defender a si mesmos. Defendem Décio para defender na consciência pesada os canalhas que são. São esses que fingem estar zangados com o que escrevo em defesa de Décio.


Não posso negar, sinto nojo dessa gente. Mas essa turma só existe porque o maranhense perdeu, nesses 45 anos de mando de uma única família, qualquer resquício de bom caratismo. Quem escreve errado é visto como bom jornalista. Quem não tem escrúpulo é visto como bom caráter. Quem é capaz de vender até a mãe é considerado bom sujeito. Com uma maioria de maranhenses assim, o errado sempre se sobressai. O errado é visto como correto. Eis a cultura que a oligarquia conseguiu implantar no Estado. É o patrimonialismo até das almas.


Não havia como evitar o assassinato brutal de Décio Sá. Mas a fuga de quem o assassinou naquele local é prova de absoluta falta de segurança no Estado. Mas ninguém que defende Décio Sá toca nesse assunto. Por quê? Porque isso exporia um aparelhamento de segurança destruído. E mostrar a realidade da segurança no Maranhão é mexer com o governo do Estado. Como todos os defensores delicados de Décio Sá estão de uma forma ou de outra na dependência econômica do governo, o melhor mesmo é falar do assassinato de Décio dentro de um sentimento vulgar, fora da realidade.


Daí que bradam em jornais, tevês, blogues e outdoors: Justiça e Paz. Como se a justiça fosse algo apartado da realidade política do Maranhão. Como se a justiça pudesse ser feita fora do aparelho de segurança. Daí também que a governadora tenha soltado uma nota após a morte do jornalista de suas empresas pedindo que fossem presos os covardes assassinos. Mas não é ela a responsável pela segurança do Estado? Que conversa fiada é essa?


Assim, é mais fácil ser piegas e sentir dó de Décio do que escancarar a falência do sistema de segurança. Sentir dó de Décio atrai leitores e aplausos dos bestas. Mostrar que o governo tem uma segurança inoperante, incompetente e fora dos padrões requeridos leva a se incompatibilizar com o cofre do governo. Não preciso dizer pelo que os canalhas optam. Ou preciso?





Roberto Kenard é jornalista e editor do Blog do Kenard. Além de repórter e articulista, também é poeta premiado e um dos principais nomes da literatura maranhense contemporânea.

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