quarta-feira, 7 de novembro de 2012
 

 
Maria Tribuzi
 
Patrimônio do Maranhão
 
Por Paulo Melo Sousa
 

Início da década de 80 do século passado, com a poesia maranhense ainda lambendo as feridas em decorrência da perda de um dos seus maiores ícones, Bandeira Tribuzi. Sob a direção de Bernardo Fontenele, um Instituto que depois se tornaria uma fundação com o nome do poeta promovia encontros, seminários e palestras tendo a literatura como lastro. Nomes como os de Josué Montello, Franklin de Oliveira e Bernardo Élis se faziam presentes aos debates, aonde um grupo de jovens escritores celebrávamos as primeiras libações estéticas.

Apesar do esforço de muitos, a cintilação inspiradora de todo esse processo na verdade brotava de uma pequenina senhora então já vitimada pela dor da perda, mas, possuidora de uma vivacidade que impressionava pelo vigor com que defendia seus pontos de vista. Foi nesse ambiente de efervescência intelectual que nos tornamos amigos de dona Maria Tribuzi, essa grande figura humana que se tornara pedra de toque no tabuleiro de xadrez da agitação cultural de São Luís naquele período.

Em todos os eventos dos quais participávamos, sob a chancela da Fundação Bandeira Tribuzi, lá estava ela com suas palavras de incentivo, seus depoimentos apaixonados e suas intervenções lúcidas. De simples participantes do ambiente dos debates literários, passamos a integrar o grupo que então agitava a literatura maranhense. Começamos a frequentar sua residência, localizada na rua dos Prazeres, Centro de São Luís. O convívio inicialmente formal foi, aos poucos, transformando-se em sólida amizade, e nos tornamos testemunhas dos percalços e das alegrias da existência dessa pequena grande senhora ao longo dos últimos 27 anos. Ali, assistimos ao nascimento de suas netas, que cresceram, casaram-se, e que agora já deram a dona Maria Tribuzi a dádiva de uma bisneta, dentre outras dádivas, Ana Luísa, de apenas dois anos, a vivacidade em pessoa, e que tem muito a quem puxar...
Dona Maria Tribuzi: ícone da Literatura do Maranhão, ela foi casada com o poeta que ensinou tudo a José Sarney

Foi ali, na acolhedora sala de sua casa, onde essa escritora fina e desconhecida do público maranhense, sob os olhares de um velho piano, sobre o qual repousa o inigualável óculos de Bandeira Tribuzi e antigas fotografias do poeta que ela teceu a minha primeira, e única, carta de apresentação que já solicitamos na vida, destinada ao poeta Oswaldino Marques, então radicado em Brasília. Na capital da República, durante a realização do I Festival Latino-Americano de Arte e Cultura, em agosto de 1987, conhecemos o poeta e crítico numa das salas da Universidade de Brasília - UNB, e aconteceu entre nós imediata simpatia mútua. A carta selou uma amizade entre eu e Oswaldino que durou até sua morte, em 2003, e o grande mestre maranhense me concedeu a honra de prefaciar meu primeiro livro de poemas.
No início da década de 90, dona Maria foi eleita naturalmente a madrinha do Grupo Poeme-se (1985 / 1994), criado por mim e por Ribamar Filho, frequentando com assiduidade as leituras de poesia, as performances poéticas, as palestras e as mostras de vídeo que promovíamos então no Sebo do Poeme-se, localizado na velha rua João Gualberto, na Praia Grande. A simples presença de dona Maria no local conferia uma aura diferenciada ao ambiente e nos incentivava a levar adiante os nossos projetos pós-adolescentes.
Dona Maria Tribuzi completou 80 anos de idade no último dia 28 de outubro. Continua lúcida, sua inteligência permanece cintilante e sua verve crítica ainda se encontra suficientemente afiada. Durante tanto tempo de convívio, às vezes mais estreito e cotidiano, noutros momentos mais raros e espaçados, as nossas conversas estimulantes sempre foram bem alongadas. Mesmo acometida pelos achaques da idade, quando dona Maria começa a falar ela se esquece dessas tormentas particulares, e vai naturalmente desfiando suas peripécias existenciais. Inevitável mergulhar-se então numa viagem a um túnel do tempo que finca suas raízes num terreno movediço no qual a imaginação se entretece com a realidade.

Aí reside um aprendizado contínuo, onde as lições da experiência se mesclam ao tempero da criatividade de uma prodigiosa mente que se encontra, felizmente, em constante ebulição. Só nos resta agradecer, agora e sempre, aos sólidos ensinamentos desta jovem senhora, que ainda cultiva nas suas incisivas palavras um refinado humor, e render tributo ao seu incentivo incondicional e aos conselhos repletos do necessário e essencial tempero humanista.
Nestes tempos tumultuados, sua presença representa bálsamo necessário. Obrigado por tudo, dona Maria Tribuzi, vivo e verdadeiro tesouro cultural da capital patrimônio da humanidade. E já que nos referimos neste exercício textual a uma doce alma refinada, Oscar Wilde nos toma a palavra: “os anos que se arrastam furtivos perderam seus temores agora, não morreremos, o próprio Universo será nossa Imortalidade”. E falará sobre nós.
 
 
Paulo Melo Sousa é um dos grandes poetas maranhenses da década de 80. Jornalista, Editor e Crítico Literário, Melo Sousa é amigo pessoal do editor de ANB Online e repórter do suplemento JP Turismo do diário Jornal Pequeno, onde edita a página semanal de Arte, Turismo e Cultura.  

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