AS VAIAS

Por João de Deus Vieira Barros


Sempre achei as vaias simpáticas. Não sei porque, mas vaia para mim é uma espécie de carinho às avessas. Não, necessariamente, um anti-carinho. Talvez mesmo um ante carinho. Tem um caráter altamente pedagógico. E é a mais democrática, leve e sincera de todas as formas de protestos. Assim como os aplausos, como reconhecimento de um sucesso. Da mesma forma que há aplausos falsos, condescendentes ou simplesmente por educação, há também vaias verdadeiras, cruéis e por falta de educação. Enfim, nenhuma vaia ou aplauso pode ser julgado fora do seu contexto.

Aí entendemos porque as vaias, acho mesmo que nem foram vaias, mas xingamentos. Grotescos e bruscos xingamentos. Palavras de baixo calão. Que ressoaram na Arena Corinthians, - (Acho o substantivo adjetivado horrendo, lembra o lugar onde os gladiadores lutavam até a morte) -, chocaram tanto o país e parece que o mundo. Os gladiadores estavam não no espaço da luta, mas nas arquibancadas. De um lado, uma única mulher lutadora, que possui uma história de enfrentamento, de luta, que já foi presa e torturada pela Ditadura Militar e que, pelo capricho dos deuses e do ex-presidente Lula, tornou-se a primeira mulher a ser presidente do Brasil. Do outro lado, milhares de pessoas de alto poder aquisitivo, artistas, estrelas – e um ou outro felizardo que conseguiu furar o cerco dos privilegiados.

Interessante perceber como o embate se dá tão somente, a nível do simbólico: não é o torcedor contra a presidenta, mas uma classe específica contra um estilo de governo. Pelo menos é isso que os textos que li até agora falaram. Diz-se que aquelas pessoas que desrespeitaram Dilma, na verdade, não se conformam com o fato de os menos favorecidos hoje terem acesso aos mesmos benefícios que os mais abastados, do tipo, andar de avião, fazer faculdade, ter plano de saúde e por aí a fora. Exagero à parte, pois está muito longe de todos os brasileiros terem acessos aos bens de consumo e serviços que o sistema oferece – para isso basta ver crianças, adolescentes e idosos vendendo coisas nos faróis. Mas, reconheçamos: nos últimos três governos o país avançou no campo do social sim. O acesso à moradia e ao ensino superior ou pelo menos a um diploma de nível superior cresceu. Em São José de Ribamar, por exemplo, hoje perdemos a conta de quantas pessoas já possuem nível superior. Em 1992 quando retornei de São Paulo eu era um dos três ou quatro moradores com curso superior e o único com mestrado no Município; e em 1996, o único filho da terra Doutor – o que parece se manter até hoje. Atualmente já perdemos a conta do número de pessoas com curso superior, de estudantes universitários e de futuros universitários. O nível econômico da população melhorou. Casas foram reformadas, novas construídas e muitos comércios e novos serviços surgiram nos últimos 10 anos.

Eu comentava outro dia, olhando fotos antigas de moradores de Ribamar que ainda eram crianças, uns quinze anos atrás, como eles  apresentavam aspectos de subnutrição e hoje seus filhos pequenos já não apresentam mais esse aspecto.

Coloquei no Face: “Eu não gosto de Copa do Mundo, nem no Brasil nem em outra parte. Também não acho que fazer copa no Brasil seja um erro porque o pais tem outras prioridades. Bobagem, isso não é nada diante do desvio de verbas públicas no país todo há décadas. Com copa ou sem copa o Brasil é uma anedota.”

Agora se eu fosse Dilma. Ah, se eu fosse a Dilma! Eu ia discursar sim na final da Copa, sendo ou não o Brasil finalista. Mesmo que fosse vaiada e xingada novamente. Se isso acontecesse, estaria confirmada a falta de educação dessa pseudo elite brasileira. E se eu fosse aplaudida o desastre seria ainda maior, pois essa elite mostraria que além de mal educada é também hipócrita. O ideal seria que ela discursasse e a plateia se mantivesse em silêncio do começo ao fim. Aí sim, o jogo terminaria empatado.

O silêncio pode valer mais que mil palavrões.
João de Deus Vieira Barros é professor universitário-UFMA e Doutor em Educação. Além de cronista e articulista é também ator, poeta e músico. Mora em São José de Ribamar.


Nota do editor:  o presente artigo retrata o episódio das vaias a presidenta Dilma por ocasião da Copa do Mundo. Publicamos hoje por entender que o articulista reforça aspectos importantes dessa expressão popular aquém circunstâncias, mantendo assim a atualidade do texto.
MISÉRIA E FALTA DE PERSPECTIVAS NA TERCEIRA MAIOR CIDADE DO MARANHÃO
São José de Ribamar no Maranhão enfrenta nos dias atuais o maior abandono de sua história. Clima de insatisfação, descontentamento e revolta dos habitantes se arrasta por toda cidade. Povoamento desordenado é também um dos sérios e graves problemas locais.

Por Fernando Atallaia
Editor-Chefe da Agência Baluarte
atallaia.baluarte@hotmail.com

Ao andar por ruas e avenidas das localidades e bairros de São José de Ribamar o visitante ou o próprio habitante da cidade se deparará com uma realidade que salta aos olhos: descaso, abandono e desprezo  pelos logradouros.

Não bastasse essa vivaz e tórrida paisagem, encontrará outra que chamará atenção por sua terrível e visível tristeza: o povo do município denuncia no olhar a falta de perspectivas de vida e de esperança no futuro. Quer seja pelo alto índice de violência que acomete, atualmente, a cidade ou pela miséria que a atordoa aos quatros cantos, da Sede a chamada Região das Vilas, São José de Ribamar vem se acabando no tempo.

Tendo todas as condições para ser uma cidade rica, desenvolvida e com uma população próspera, Ribamar é um dos muitos retratos do lamentável IDH maranhense concebido no subdesenvolvimento. Nem mesmo os milhões de reais mensais do FPM Especial destinado às políticas públicas convencem o atual gestor da aplicabilidade dos recursos para que se tenha ideia.

http://www.saojosederibamar.ma.gov.br/_files/gallery/Foto
O prefeito Gil Cutrim: Fundo de Participação Especial que não reflete em melhorias para a cidade abandonada de São José de Ribamar  
Como exemplo, a grande maioria dos mais de 200 mil ribamarenses que povoam hoje a cidade tem de conviver com a falta de oportunidades de trabalho e com o desemprego alarmante que deflagra forte vulnerabilidade social e acentuada presença de subemprego (terminologias já varridas do glossário das cidades brasileiras em processo de modernização e desenvolvimento no século 21). Na contramão dessa constatação, a política virou alternativa no município. Pelo menos para 16 vereadores locais que gozam de benesses, fartos privilégios do Executivo municipal e de grandes fortunas acumuladas, fato contrastante com a realidade do povo que os elegeu que, por sua vez, acumula desesperança, pobreza e miséria.

Mesmo com todo esforço do governo local, hoje capitaneado pelo prefeito do PMDB Gil Cutrim, em negar a crua e irrefutável realidade, as ações e obras do governo não são estruturais e nada oferecem como resposta aos problemas do município. Patinam na intenção midiática do velho jargão popular ‘’tapar o sol com a peneira’, ainda que pelas frestas da peneira ecoem os gritos de desespero dos habitantes da cidade.


Beto Das Vilas / Manoel Albertim Dias Dos Santos
O vereador Beto das Vilas, presidente da Câmara de Vereadores de Ribamar: um dos parlamentares alinhados ao prefeito, ele fez fortuna na cidade
Áreas da gestão pública como Educação, Infraestrutura, Saúde, Cultura e Assistência Social  escancaram um sistema administrativo prostituído e corroído pelas práticas de politicalha no município. Enquanto nossa equipe produzia essa reportagem apurando informações do bairro Araçagi, sabíamos de um morador que o prefeito estava a fazer campanha para Deputado Estadual para o seu irmão caçula, Glauber Cutrim. Nos arredores, as centenas de ruas esburacadas e esfaceladas protagonizam grandes banners eletrônicos que ganham as redes sociais, como num filme. Hoje cerca de 90 por cento dos ribamarenses denunciam o descaso da gestão nas Redes.

Outros milhares de ribamarenses atribuem o fracasso da gestão do prefeito Cutrim na cidade ao seu próprio secretariado. Cutrim vem sendo posto em xeque com frequência por conta de ações desastrosas de alguns secretários seus a quem a população chama de ‘fofoqueiros truculentos’ pelos bairros da cidade. Na esfera interna da administração, o vice Eudes Sampaio mostra desânimo. Rumores legitimados ou fatos, o que se vê é uma administração que despencou no descrédito. Lá fora, nas ruas, a população sofre as consequências. ‘’ Eles, além de despreparados são enrolões e mentirosos, isso (a gestão) é uma grande enrolação, uma molecagem, eu preferia quando o prefeito era o doutor Luis Fernando’’, remonta-se uma moradora do bairro histórico Moropoia na Sede, referindo-se ao ex-prefeito da cidade Luis Fernando Silva.

Atávica, a gestão de Gil (como a denominam alguns ribamarenses) não só está longe do tino da governabilidade como escorrega em ausências gritantes. Nos últimos cinco meses, várias manifestações e greves de servidores públicos municipais explodiram simultaneamente na cidade depois de larga rodada de negociações com secretários da prefeitura. Inábil e ignóbil, o corpo de gestores de Cutrim não consegue reverter imbróglios pelo poder da conversação. Ao contrário: leva quase que diariamente o prefeito à vergonha alheia. ‘’Quem manda em tudo nessa prefeitura é só um, dois secretários, ele (Gil Cutrim) largou tudo na mão deles e tá tudo afundando na irresponsabilidade’’, decreta o ribamarense Anderson, habitante da área urbana de Ribamar. Anderson faz uma alusão ao primo do prefeito e ex-secretário de Juventude Fredson Froz que por muito tempo, segundo fontes do município, deu as cartas e ainda estaria mandando e desmandando na prefeitura a centralizar as ações do governo em torno de suas decisões. ‘’Quem decide tudo lá é ele’’, acrescenta Anderson. Fredson que foi remanejado para Secretaria de Cidades do Governo do Estado assinou enquanto secretário da Prefeitura contratos considerados exorbitantes deixando acentuadas suspeitas quanto à aplicabilidade dos recursos na sua gestão.
Fredson Froz
O hoje secretário de Cidades do Governo Estadual, Fredson Froz: enquanto integrava a gestão Cutrim ele assinou contratos com valores que deixaram 'suspeitas'
Denúncias na Rede- Quem frequenta as redes sociais com certa assiduidade já se acostumou a vê extratos de contratos e convênios realizados pela Prefeitura Municipal de São José de Ribamar escaneados nos perfis dos ribamarenses. Valores discrepantes que não refletem benefícios e melhorias aos munícipes deixam dúvidas quanto aos procedimentos de suas aplicações e fazem um convite ao Ministério Público local para possíveis averiguações. Conforme investigou ANB Online, O MP em São José de Ribamar vem levantando suspeitas quanto à sua atuação. Uma espécie de fuga pela tangente. ‘’É muito desmando e o Ministério Público não faz nada aqui em Ribamar, eu particularmente acho suspeita essa acomodação dos promotores aqui na cidade’’, diz o funcionário público Osvaldo Silva. O funcionário preferiu manter o nome sob pseudônimo por medo de ameaças, represálias e perseguições. Perseguição é, inclusive, uma palavra corriqueira na ambiência da cidade. Diversas lideranças comunitárias e políticas, como conta Osvaldo, já teriam sido perseguidas e achincalhadas pelo grupo político do prefeito Cutrim em São José de Ribamar numa prática que lhe é peculiar.

‘’Muita gente tem medo de falar a verdade sobre os desmandos deles(Governo municipal e secretários da Prefeitura) a perseguição é forte demais, eles vasculham a vida da pessoa e se não encontram nada começam a inventar mentiras e fatos estranhos começam a acontecer como a pessoa perder o emprego e ser expulsa do trabalho, quem faz isso são os próprios secretários e os vereadores do Gil, tudo a mando do prefeito, quando não ameaçam de morte’’, revela Osvaldo, um conhecido militante político de Ribamar que hoje integra as hostes governistas.  

Demografia fora do eixo da administração- Uma das cidades mais populosas do Maranhão São José de Ribamar é a ‘menina dos olhos’ dos políticos do estado. Não só pelos repasses federais milionários que recebe, mas também pela fixação que alguns deles têm de formar uma tradição familiar no município, maneira mais simples de consolidar o grupo político no vasto perímetro. Nas últimas duas décadas, mais da metade dos vereadores eleitos na cidade migraram de São Luís ou de cidades como Coroatá, Humberto de Campos e Icatu para tentar a sorte política em Ribamar. Em contrapartida, os últimos anos não foram benéficos aos ribamarenses como tentam preconizar os governos do PMDB na cidade e os parlamentares contemplados aliados do prefeito.

Crescendo desordenadamente e sem qualquer planejamento demográfico, São José de Ribamar virou uma bola de neve. A falta de consistentes e arrojadas políticas públicas aliada a alienação que o Governo municipal mantém do espaço geográfico do município comprometem setores como o da Segurança Pública e ainda a cidadania dos ribamarenses. Na prática, a terceira maior cidade do Maranhão vem sendo também maior  em quesitos como criminalidade e violência. Fatores resultantes da contraproducente postura do Poder Executivo da cidade.

Multidão de ribamarenses reunida em torno do programa habitacional 'Minha Casa, Minha Vida': crescimento desordenado e falta de planejamento espacial por parte do Governo
‘’Esses abismos sociais se originaram do choque cultural entre os ribamarenses que aqui já viviam e os milhares de pessoas que pra cá vieram se instalar através de invasões e mais recentemente dos programas habitacionais que em Ribamar foram implantados sem nenhum tipo de planejamento da estrutura ou conjuntura espacial e social do município, ou como deveria ser, dentro de um organograma ou projeto do Governo municipal voltado para a prevenção do impacto desse povoamento, a cidade inchou de forma aleatória, ou como se diz no popular  ‘de qualquer jeito’ e quem sofre com esse fato é a população, a violência e a criminalidade são também frutos desse povoamento desordenado que não caminha juntamente com a qualidade e alcance das políticas públicas que aqui em Ribamar são de caráter paleativo, mesmo a cidade tendo recursos milionários do FPM Especial para aplicar de forma adequada e estrutural, o que não ocorre’’, aponta o professor Frazão, um dos muitos ribamarenses que sofre as más consequências do problema do povoamento desordenado em Ribamar.  

Formando os maiores conglomerados habitacionais da cidade bairros como Parque Jair, Jardim Tropical, Parque Vitória, Araçagi e Centro se assemelham na falta de perspectivas de trabalho e geração de emprego e renda, no alto índice de insegurança e violência e na infraestrutura deteriorada, dentre muitos outros aspectos que tem em comum, tais ainda como a ausência de ações de combate à ociosidade e estimulo à formação profissional. Em São José de Ribamar nenhum setor da administração pública está em pleno funcionamento ou otimizado em conformidade com as carências e demandas sociais das comunidades locais, como destaca o estudante universitário Claudinor Pinheiro, um dos moradores do Centro, hoje um dos bairros mais violentos de Ribamar localizado na sede do município. ‘’A juventude de Ribamar está abandonada à própria sorte e toda população idem, nosso povo está desassistido, sem emprego, sem trabalho, sem segurança, sem educação, sem saúde, sem nada, São José de Ribamar é hoje uma cidade abandonada, totalmente abandonada’’, vaticina o estudante.   

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